Natural da Bajouca, uma pequena aldeia do concelho e distrito de Leiria, mas atualmente a residir no Luxemburgo, António Carreira é um fotógrafo amador que se destaca pelas suas fotografias de viagem que retratam a cultura e pessoas de outras paragens, como o continente asiático e africano, mas também se aventura na fotografia de arquitetura, paisagem ou até macro fotografia de estúdio. O seu talento foi reconhecido ao ser distinguido como fotógrafo do mês de fevereiro, com 27 fotografias selecionadas como “Escolha dos Editores” e uma como “Destaque Público”. António foi ainda o vencedor da fotografia da semana por uma ocasião durante o mês de fevereiro, tendo ainda uma fotografia em segundo lugar e duas em terceiro, alcançado o inédito de as três fotos mais votadas da foto da semana pertencerem ao mesmo autor. António foi ainda distinguido no concurso “ARQUITETURA” com o segundo lugar. No final do mês de fevereiro, o António terminou com um total de 95 pontos!

Para dar a conhecer um pouco mais da visão fotográfica do António, decidimos fazer-lhe uma série de perguntas às quais ele gentilmente respondeu. Aqui está o resultado:

Pergunta: Como e há quanto tempo apareceu a fotografia na sua vida?

António: Bem, eu não nasci num berço fabricado com filmes e máquinas fotográficas de outrora, embora a fotografia e a imagem em geral despertem o meu interesse há muito tempo. A minha chegada à fotografia é relativamente recente, há cerca de 14 anos, e não me envergonho de dizer que as redes sociais e os sites dedicados à fotografia, foram em muito responsáveis pelo despertar de um interesse profundo.

Pergunta: Quais foram os sites dedicados à fotografia que, fotograficamente falando, o marcaram? E de que forma esses sites o fizeram evoluir enquanto fotógrafo amador?

António: Sem sombra de dúvidas o extinto Olhares, onde cheguei com o tipo de fotografia que mais me “enchia” na altura: a fotografia de alta velocidade. Também o Viewbug, o 1x.com, o 500px, o Flickr e alguns mais. Além disso, sites de fotógrafos que também me influenciaram como o Alexandre Deschaumes, fotografia de paisagem, o Christophe Boisvieux fotógrafo humanista documental que conheço pessoalmente, com quem partilhei caminhos na Etiópia, Índia e Birmânia e que muito favoreceu a minha atual maneira de aproximar e retratar pessoas, cenas de vida e locais.

Muitos outros me influenciaram, sem esquecer os grandes Mestres do passado, de quem a informação e trabalhos se encontra disponível em alguns clicks. Considero que a interpretação pessoal das grandes obras é um dos caminhos mais curtos para chegar à fotografia. As regras por estes criadas continuam válidas, tentar quebra-las pode ser um caminho, mas provavelmente sinuoso.

Acho que percebi que o importante na fotografia é olhar demoradamente e tentar perceber o processo que levou ao resultado que nos chega, depois, a prática traz a evolução.

Pergunta: Parte importante do seu trabalho fotográfico tem uma forte essência documental das suas viagens a outros continentes, tais como África ou Ásia. Quando foi a primeira vez que viajou para uma dessas regiões? Viajou já com a intenção de fotografar ou foi uma viagem dita “turística” acompanhado de família ou amigos?

António: Viajar acho que faz parte do meu ADN ou está inscrito no micro-programa do meu cérebro. Comecei a viajar em meados dos anos 90 em férias, repouso, “dolce far niente” com a família e por vezes amigos. O interesse pela fotografia ainda não existia.                                                                         

Quando o interesse pela fotografia despertou, como referi à cerca de 14 anos, com a cumplicidade da minha companheira Irene (minha esposa) que me ajuda, serve de assistente, por vezes de modelo e que por vezes também faz fotografias, comecei a organizar as viagens de maneira diferente. Quando a intenção é a fotografia, esqueço por completo o conforto, e por vezes é de “saco às costas“ que enfrento as jornadas. Em certos locais que visitei como o norte da Etiópia, certas regiões da Birmânia, o interior do Senegal e o sul da Índia, os hotéis são ou inexistentes ou rudimentares. É preciso abrir o espírito e adaptar-se ao existente, quando existe! A “mania” da fotografia exige levantar cedo e por vezes deitar mais tarde para aproveitar a luz, o que quer dizer que o melhor é estar pela manhã no local desejado e não num hotel confortável a horas de distância e isto é também válido para o entardecer. Na Indonésia, em 2016, nas ilhas de Java, Bali e Lombok tentei o conforto em hotéis, mas o resultado não foi o melhor, acabei por chegar ao monte Bromo já a manhã ia alta, o mesmo me aconteceu no vulcão Ijen e um pouco em todos os locais que visitei.

Também acontece aproveitar a viagem e misturar com “turismo” no mesmo País quando isso é possível ou numa escala pelo caminho.

 Pergunta: Dependendo da situação, qual é o material fotográfico que usa?

António: A primeira máquina fotográfica que comprei com a intenção de “fazer fotografias” foi uma Canon 5D Mark II, e as primeiras objetivas foram a EF 24-70mm F2.8 e a EF 16-35mm F2.8, seguindo-se a EF 70-200mm F2.8. Não por uma qualquer convicção em relação à marca, mas sim por razões de compatibilidade tenho sido fiel a esta marca ou à Sigma em objetivas.                 

Hoje quando saio em reportagem uso uma R5 com a RF 70-200mm F2.8 e a 5D Mark IV com a EF 24-70mm F2.8, por vezes também utilizo uma RF 24-70mm F2.8 na R5, é que este conjunto em condições de baixa luz é muito bom, como por exemplo dentro de templos ou em outros locais pouco iluminados.

Também uso uma MACRO EF 100 mm f/2,8 em fotografia macro e macro de alta velocidade por vezes com um Tele-converter Sigma 2X EX DG (para quem não sabe este Sigma encaixa nesta objetiva e funciona na perfeição, enquanto o Extender EF 2X Canon nem sequer encaixa. Fica a dica!).

Para animais uso a Sigma 150-600mm F5-6.3 DG OS HSM Sports. Em arquitectura e paisagem é fácil usar a Sigma 12-24mm F4 DG HSM Art ou a Canon EF 16-35mm F2.8.

Filtros, tripés, flashes e mais umas quantas objetivas de uso pontual ou a inútil 50mm F1.4 que anda sempre no saco e que de pouco me serve, acho que não vale a pena falar.

 Pergunta: Das suas fotos que foram distinguidas no nosso site durante o mês de fevereiro tem alguma preferida ou que tenha alguma história mais curiosa que queira partilhar?

António: Talvez a “This Is Not America” pela envolvência do local onde a tirei. Estava hospedado em Bahir Dar na Etiópia, uma cidade que se estende ao longo da margem sul do Lago Tana, e a ideia para aquela manhã era visitar as cascatas do Nilo Azul ao nascer do dia. Levantar cedo, um rápido café e encontro com o guia, alguns Kms de caminho de terra batida e algumas paragens pelo meio. Acabei por fazer a travessia das aldeias a pé. Foi numa dessas aldeias em que o pó levantado pelos carros e carrinhas, motorizadas, bicicletas, carroças, animais e muita gente, misturado com o fumo de inúmeras fogueiras ao longo do caminho e com os primeiros raios de luz rasante, criaram esta atmosfera. A foto mostra várias pessoas que esperam por um possível lugar num transporte que em geral já vem bem mais que cheio, mas quase sempre com lugar para mais um.

Segui para as cascatas onde cheguei já bem mais tarde que o previsto com a passagem pela velha ponte portuguesa sobre o Nilo Azul que não é propriamente fotogénica, mas que me deixou consolado só por a ter pisado.

Pergunta: Que conselhos você daria a quem está a começar no mundo da fotografia ou para quem esteja a tentar levar a sua fotografia para o próximo nível? Tem alguns conselhos que possa dar para quem se queira aventurar em ir fotografar num país (como por exemplo a Etiópia) com uma realidade social diferente do nosso?

António: Conselhos para quem está a começar no mundo da fotografia: antes de mais fotografar, fotografar muito e olhar longamente o trabalho desenvolvido para tentar perceber onde se pode melhorar. Ler muito sobre fotografia é importantíssimo também.

Para o próximo nível; acho que vou utilizar um Joker: é que eu próprio ainda não sei em que nível me encontro.

Para quem se queira aventurar num, ou em vários países de realidades sociais diferentes, informar-se sobre o destino pretendido. As dificuldades nas deslocações, a maneira de viver das gentes que por ali habitam, a maneira de comunicar com elas e não hesitar em fazer apelo a guias e, ou, intérpretes locais. Hoje é relativamente fácil encontrar agências locais e até muitos independentes que propõem esse tipo de serviços por quantias módicas e isto é válido também para as deslocações e alojamento.

Este tipo de viagens prepara-se com antecedência, talvez um ano ou pelo menos seis meses serão necessários para estabelecer contactos com quem localmente possa ajudar. É necessário pesquisar e ler, ler muito sobre o país, a região e o local, calcular as distâncias e o tempo necessário para estar no local há hora pretendida. Por vezes é interessante informar-se sobre festas e festivais, comemorações de todo o género, religiosas ou não, que reúnem muita gente e em geral são momentos de grande interesse. Também existem maneiras mais fáceis de viajar e chegar a locais muito interessantes, as agências de viagem que propõem viagens dedicadas à fotografia. Em 2017 viajei com agência francesa Photographes du Monde e a experiência foi bastante boa.

Poderão ainda consultar páginas existentes sobre o assunto e obter informações sobre equipamentos a utilizar e métodos adequados.

Fim

Podem ver a galeria do António Carreira no nosso site https://olhares2.com/profile/?a-carreira/, bem como na sua página de Instagram www.instagram.com/antoniodcarreira/.

Até já!

 

Envolve-te!

Comentários

José Rosado avatar
@peepso_user_127(José Rosado)
Parabéns!
Luis Lobo Henriques avatar
@peepso_user_68(Luis Lobo Henriques)
Parabéns António!!